ORANGOTANGO CURANDEIRO

ORANGOTANGO CURANDEIRO

Um orangotango de Sumatra surpreendeu cientistas ao ser visto tratando um ferimento aberto na bochecha com um cataplasma feito de uma planta medicinal.

É o primeiro registro científico de um animal selvagem curando uma ferida usando uma planta com propriedades medicinais conhecidas. A descoberta foi publicada esta semana na revista científica Scientific Reports.

Durante a observação de orangotangos de Sumatra (Pongo abelii) no Parque Nacional Gunung Leuser, na Indonésia, um macho jovem se estabeleceu na floresta.

Ele não tinha as grandes almofadas faciais de um macho maduro e tinha provavelmente por volta de 20 anos. Foi batizado de Rakus, que significa “ganancioso” em indonésio, por ter comido todas as flores de um arbusto de gardênia de uma só vez.

Em 2021, Rakus cresceu bastante e se tornou um macho adulto com almofadas faciais.

Os pesquisadores observaram Rakus lutando com outros machos para estabelecer dominância e, em junho de 2022, um assistente de campo notou um ferimento aberto em seu rosto, possivelmente causado pelos caninos de outro macho.

Dias depois, Rakus foi visto comendo os caules e folhas de uma trepadeira chamada Akar Kuning (Fibraurea tinctoria), usada pela população local para tratar diabetes, disenteria e malária, entre outras doenças.

Orangotangos na área raramente comem essa planta.

Além de comer as folhas, Rakus as mastigou sem engolir e usou os dedos para espalhar o suco na ferida facial por sete minutos. Moscas pousaram na ferida, e Rakus então colocou um cataplasma do material mastigado sobre o machucado.

Ele comeu a planta novamente no dia seguinte.

Oito dias após o ferimento, a ferida de Rakus estava completamente fechada.

A equipe de pesquisa não observou nenhum outro orangotango no parque se automedicando com Akar Kuning em 21 anos de estudo.

Isso pode ocorrer porque orangotangos selvagens na região raramente se machucam, ou talvez Rakus seja o único que conhece esse tratamento, aprendido antes de se mudar para a área.

“É o primeiro estudo a demonstrar cientificamente que um animal está usando uma planta com propriedades medicinais aplicáveis a feridas, colocando-a no ferimento e tratando-o continuamente por um período de tempo”, diz Michael Huffman, que estuda automedicação animal na Universidade de Medicina Tropical de Nagasaki, no Japão.

Huffman afirma que a automedicação é observada em muitas espécies. Gansos-da-neve canadenses (Anser caerulescens) engolem folhas inteiras para expulsar vermes. Ratos-do-mato-de-pés-escuros (Neotoma fuscipes) forram seus ninhos com plantas aromáticas para eliminar parasitas.

E chimpanzés (Pan troglodytes) no Gabão foram observados esfregando insetos perto de suas feridas, possivelmente como tratamento.

Os humanos podem até ter descoberto alguns remédios observando animais. “Provavelmente nossos ancestrais observavam outros animais e aprendiam sobre medicamentos”, diz ele. “Quando animais sociais se comunicam, essa informação permanece e pode durar gerações.

Fonte: https://www.nature.com/articles/d41586-024-01289-w
https://www.nature.com/articles/s41598-024-58988-7#MOESM2

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